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«Desde aí, toda a vida do peregrino era dominada por esta questão: "Como orar sem cessar?"
O staretz  não lhe fez longos discursos, depois de lhe ter recordado que a  sabedoria e a ciência humana não eram suficientes para adquirir o dom de  Deus, antes a doçura e a humildade do coração é que nos dispõem a  recebê-lo. Ele convidou-o a uma prática.
Essa  prática, se a experimentou, não foi por ele inventada, ele transmite o  que ele mesmo recebeu. O método que ele preconiza é o que é atribuído a  Simeão, o novo teoólogo no livro onde estão consignadas as subtilezas  dessa "arte das artes" que é a oração: a filocália. Note-se, de  passagem, que para os antigos, a oração é mais uma arte do que uma  técnica, o mesmo que dizer que se trata "de uma meditação que tem um  coração".
Filocália  quer dizer literalmente "amor à beleza". A oração é a arte pela qual  nos unimos à Beleza última da qual a natureza, os corpos e os rostos são  o reflexo. Orar é ir do reflexo à luz e voltar da luz venerando-a nos  seus reflexos. Se quiséssemos resumir em poucas palavras o método que o staretz  ensina ao peregrino poder-se-ia dizer: "senta-te" - "cala-te" - "fica  só" - "respira mais suavemente" - "faz descer a tua inteligência ao  coração" - "sobre a respiração invoca o Nome" - "abandona os  pensamentos" - "sê paciente e repete frequentemente este exercício".
Encontram-se  os elementos essenciais do método hesicasta: a postura física, o  silêncio, a solidão, a respiração, o centro do coração, a invocação, a  repetição.
"Permanece  sentado no silêncio e na solidão, inclina a cabeça, fecha os olhos,  respira mais suavemente, olha através da imaginação no teu coração,  concentra a tua inteligência, quer dizer o teu pensamento, da tua cabeça  ao teu coração. Diz com a respiração: "Senhor Jesus Cristo, tem piedade  de mim" em voz baixa, ou simplesmente em espírito. Esforça-te para  afastar todos os pensamentos, sê paciente e repete frequentemente este  exercício".»
in "A Via do Peregrino" Jean-Yves Leloup
